terça-feira, 7 de abril de 2020

Porque somos assim ...

Tempos de recolhimento:

Percebemos todos que os tempos que correm, não são fáceis para ninguém, mas alguns teimam em fazer querer que não é bem assim.

Marcelo Rebelo de Sousa, após ter estado “confinado” a sua casa, com aparições espontâneas na sua varanda, brindou-nos ontem com mais um show off, de comunicação oca, propagandista, oportunista e demagoga, sobre aquilo que vai ser o nosso futuro financeiro, tentado fazer passar a mensagem de que a banca Nacional, está bem e até tem condições, de refinanciar a economia Portuguesa.

Ora depois de, António Costa se insurgir contra o ministro das finanças Holandês, porque achou repugnante uma questão que todos devíamos ter em conta, quer em Espanha, quer em Itália , quer mesmo e sobre tudo em Portugal, em que o mesmo ministro questionava abertamente, aquilo que muitos de nós questionamos nas conversas de café, ou entre amigos, mas não temos coragem de questionar a quem de direito. Porque é que as contas dos países do Sul da Europa, não estão ao nível das contas dos outros países, da zona Euro!? 

Pois é, o discurso destes dois senhores nas últimas semanas, é tão repugnante como o discurso do ministro das finanças Holandês, pese embora, ministro das finanças Holandês, tenha tido a coragem de trazer o assunto a público. Correndo mesmo o risco de ser repetitivo, terei de recordar, que tudo seria muito mais simples se por exemplo, o programa de ajustamento desenhado pela troika em 2011, e do qual só foram cumpridos 40%. Sim, é verdade, ficou por cumprir 60% do programa de ajustamento financeiro, que nos teria deixado em condições de enfrentar esta nova situação, com um conforto financeiro, que nos tornaria hoje, capazes de fazer frente a esta nova crise, de contornos muito estranhos, e cada vez mais estranhos, sem precedentes e com as mais nefastas soluções.

Sim... a saber. Se em 2015, depois de umas eleições atribuladas não tivesse sido encontrada uma solução, atirou a esquerda reacionária para o poder, onde se instalou até hoje, perdemos a oportunidade de vender 100% da TAP, concessionar a CP, a REFER, a CARRIS, os STCP, entre outros, em suma, esvaziar o peso do Estado na economia Portuguesa, se isto tivesse acontecido, o Estado Português estaria hoje em condições de se refinanciar, sem estar a espera que um qualquer Conselho Europeu, resolvesse deixar tudo na mesma. 

Já todos percebemos que não há acordo para a criação dos eurobonds ou dos Coronabonds, portanto a última alternativa que sobra é mecanismo Europeu de estabilidade financeira, para quem ainda não percebeu, são empréstimos como os que aconteceram no tempo da troika, a juros que vamos todos pagar. Isto é, no momento em que se podia dar a oportunidade de deixar o mercado financeiro funcionar livremente, injetando no mercado liquidez real, a criação de fundos ou (bonds), implica obrigatoriamente a emissão de divisas, notas, dinheiro vivo, o que nestas circunstancias, não havendo acordo entre todos, ou não havendo a tal aclamada solidariedade Europeia, coisa que nunca existiu. São 28 países, com características diferentes, com histórias diferentes, com culturas diferentes, com tecidos económicos distintos, com orgulho próprio. Por isso dizer a um Holandês que tem de ser solidário, com um Português, que segundo o que eles pensam, gasta o dinheiro todo em mulheres e copos,  ou Espanhol que além de gastar o dinheiro todo em mulheres e copos, ainda dorme “la ciesta”, não podemos condenar nenhum outro membro da EU, que passou os últimos 60 anos, a fazer tudo para ter as suas contas publicas em ordem, enquanto nós fizemos tudo ao contrário. 

Por isso, só há uma coisa mais repugnante que o discurso de um populista demagogo, é precisamente o discurso de dois populistas demagogos. Tanto Marcelo como Costa, tentam fazer passar a mensagem de que vai ficar tudo bem, mas não nos dizem a que custo é que vai ficar tudo bem. Todos sabemos que a nossa divida publica, está num ponto em que ultrapassa 150% do PIB, e todos percebemos que andamos a empurrar a divida existente desse os anos 70, e da qual fomos pagando apenas os juros, e 40 anos depois, não só não pagamos nada, como só aumentamos a dívida à custa dos juros que se foram acumulando, até hoje. Esta nova crise, vai trazer mais dívida, mais juros e consequentemente mais impostos necessários para gerar receita que servirá, para eventualmente sustentar a máquina do Estado a manter-se como uma esponja que nos suga todos os recursos.

O tal mecanismo Europeu de estabilidade, vai gerar empréstimos aos Estados membros, em condições mais gravosas que as de 2011, e como consequência, o resultado de uma nova injeção de capital ao abrigo do tal MEE, vai obrigar-nos a fazer cumprir os tais 60% do programa de ajustamento financeiro da troika, o tal que ficou por fazer. A minha questão é muito simples. E se tivéssemos cumprido o programa de ajustamento da troika, na sua totalidade?! 

Espero honestamente que desta vez, haja gente responsável com vontade de fazer as reformas necessárias e que o tribunal constitucional, seja tão ativo como nos últimos 5 anos . 

R.A.M.
7-04-2020 

Sem comentários:

Enviar um comentário