quinta-feira, 16 de junho de 2022

A história da marmita

Durante muito tempo... habituei-me a ver marmitas lá em casa que  eram sobretudo usadas por meu pai, quando ia à caça, naquela altura caçava-se todos os dias, e então todos os dias ou quase, havia uma marmita com tudo o que de melhor havia em casa, para o senhor meu pai, sair com os amigos e ir caçar. 

Mais tarde, comecei a olhar pela janela e via o Fernando Mosca, descer a rua com a marmita que levava aos pais dele, que tinham uma banca de fruta e legumes na praça do mercado, nunca perguntei ao mosca, o que levava na marmita, era falta de educação dizia a minha avó... essas coisas o menino apreende mais tarde. E mais tarde, anos mais tarde, percebia que os ferroviários que moravam mais acima, desciam a rua todos os dias carregados de casacos e botas, mas aposto que o que pesava menos, era mesmo a marmita. Era a marmita e o cantil, cheio da água da torneira, ao contrário dos de lá de casa que só viam água quando era preciso lavá-los... adiante!! 

Hoje lembrei-me da história das marmitas, porque há uns anos atrás, tivemos um episódio de má memória, quando algum jornalista sem ter o que fazer, se lembrou que o restaurante da Assembleia da Républica, pago por todos nós, servia aos excentricíssimos senhores deputados refeições consideradas “gourmet” por uma quantia irrisória, que honestamente já não me recordo do valor, mas rondaria uma soma ridícula mesmo com vinho. Obviamente, eu não esperava que os deputados da Nação, fossem carregados com as suas próprias marmitas de casa, mas muitos deles vão à caça, sabem o bem que lhes sabe, estar no monte e saborear um naco de presunto com pão caseiro, e portanto a relação que eu faço neste momento, é a de que se ao fim de semana podem, porque é que durante a semana temos de ser nós a pagar o tal almoço xpto que eles devoram todos os dias no restaurante da AR, porque Deus nos acuda se chama-mos cantina, à cantina da AR ... 

Na verdade, o que eu vos queira dizer hoje, é que os políticos que temos alimentam-se todos muito bem, porque quem lhes enche a marmita somos nós. Enquanto continuarmos a ser coniventes, com os desperdício de dinheiros públicos, enchendo marmitas, vamos ter uma marmita cada vez mais leve, como a daqueles senhores que desciam a minha rua há muitos anos atrás, de madrugada para irem trabalhar nos carris do comboio, ou a marmita do mosca que ainda hoje, não sei o que levava dentro, porque pronto essas coisas não se perguntam... Como não se pergunta, quanto custa o almoço na cantina da AR, porque mesmo sendo nós a pagar... Há coisas que não se perguntam.